sábado, 6 de fevereiro de 2010

Poema

Exércitos conflituosos foram extintos.
Agora, só deles os fósseis é que restam.
Os sobreviventes.

Muitos deles nos parecem familiares.
Regras são sempre as mesmas.
Apenas os jogadores é que mudam.

Tempo e mortalidade nada significam.

Quando o silêncio ensurdecedor da tua ausência
vibra do cio subtil da luz
e a tua sombra vem turbulenta
no fluxo da noite.

Sátiro à tua beira como asno lácteo.
Diabo ou Deus?

Vem a mim
vem como abismo nupcial
na brisa leve e estranha.
No luar do bosque em marmóreo monte.
O roxo da minha prece ardente.
Do àdito rubro do laço quente.
A alma que enterra em olhos de azul
o ver entrar teu capricho exul.

Vem com trombeta estridente e fina
bela colina.
Meu corpo eu lasso do abraço em vão.
Áspide e agudo na solidão.
Mas vem
está vazia a minha carne fria
do cio sozinho da demonia.
A espada corta tudo que ata e dói.
Tudo cria, tudo destrói.
Dá-me o sinal do olho aberto
a coxa aspa, o toque erecto
e a palavra do louco e do secreto.
Faz o teu ser sem vontade vã!
Desperta na dobra do aperto da cobra.

No corno, no corno do unicornado
eu sou levado
no solstício severo a equinócio,
e raivo, e rasgo
e rosnando fremo, o mundo sem termo
os deuses vão.

Quando despertosdeste sono
a Vida, se soubermos o que somos
e o que foi essa queda de corpo
essa descida até à noite
que nos a alma obstrui.

Conheceremos toda a escondida verdade
de tudo aquiloque há, ou flui.

Não, Nem na almalivre é conhecida.
Nem Deus que nos criou
em si a inclui.
Deus é homem de um outro Deus maior.
Adam supremo, também como foi nosso criador
foi criado e aVerdade lhe morreu.
Além do abismo, spírito lha veda
a quém já não há no mundo
corpo seu.
Mas antes era o Verbo aqui perdido.

Quando a infinita luz já apagada
do caos, chão do ser foi levantado em bomba.

E o Verbo ausente escurecido.
Mas se a alma sente a sua forma errada
em si que é sombra, vê enfim.
Luzido o Verbo deste mundo
humano e ungido.

Rosa perfeita em Deus crucificada.
Então senhores dolumiar dos céus?...
Poderemos ir buscar além de Deus
todo o segredo do mestre
e o Bem profundo?
Não só de aqui mas já de nós despertos
no sangue actual de Cristo
enfim libertos
que morre o adeus da geração do mundo.

Ah!!... Mas aqui onde errais erramos.
Dormimos o que somos.
E a Verdade?
Inda que enfim em sonhos a vejamos?
Vemo-la porque em sonho é falsidade.
Sombras buscando corpos.
Se as achamos
como sentir a sua realidade?
Com mãos de sombra?
Sombras que tocamos!

O nosso toque é ausência e vacuidade.
Quem desta alma fechada nos liberta?
Sem ver
ouvimos além da sala de ser.
Mas como?
Aqui, a porta aberta?

Calmos na falsa morte a nós exposto.

O livro ocluso, contra o peito posto
nosso pai, rosea crux, conhece e cala.

Ulisses Teixeira
29/01/2010
22:06 H