terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Disse

Disse 
A àgua dos teus lábios 
O fruto leve dos teus dedos 
A sombra macia dos teus seios 
A distância rara dos olhos negros 
O sussurro quente da tua presença 
A violência branca do teu riso 
A emergência dos silêncios 
O rumor de noite dos teus cabelos 
O rasto da tua ausência

Luis Rodrigues

domingo, 30 de novembro de 2008

Falo ou não falo?

Falo. Não digo nada.
Ninguém me ouve
porque estou calado.
.
Digo, mas não falo nada.
Quem me ouve é surdo.
E eu, dizendo, estou calado.
.
Calei-me p'ra não falar
pois falando
não digo nada.
.
Mas o pior s'ta p'ra vir.
quando não conseguir
dizer nada.
.
pacovillanova e RT
30/11/08

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O mistério do mundo,...

O mistério do mundo,
o íntimo, horroroso, desolado,
verdadeiro mistério da existência,
consiste em haver esse mistério.
....
Não é a dor de já não poder crer
que m’oprime, nem a de não saber,
mas apenas completamente o horror
de ter visto o mistério frente a frente,
de tê-lo visto e compreendido em toda
a sua infinidade de mistério.
....
Quanto mais fundamente penso, mais
profundamente me descompreendo.
O saber é a inconsciência de ignorar...
.
Só a inocência e a ignorância são
felizes, mas não o sabem. São-no ou não?
Que é ser sem o saber? Ser, como a pedra,
um lugar, nada mais.
....
Quanto mais claro
vejo em mim, mais escuro é o que vejo.
Quanto mais compreendo
menos me sinto compreendido. Ó horror
paradoxal deste pensar...
....
Alegres camponesas, raparigas alegres e ditosas,
como me amarga n’alma essa alegria!
.
Fernando Pessoa

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A Criação de Impérios


Como sabemos, os Estados Unidos da América são uma Nação nova, criada num momento em que no mundo abundava uma ambição desmedida, inigiada por nós, Portugal Nação, com a conquista de novos rumos que nos conduziriam ás especiarias do Oriente.
Como também sabemos, os EUA orgulham-se de ser uma Nação livre, o País das Oportunidades, onde o Governo procura, muitas vezes indelicadamente, salvaguardar os interesses dos seus cidadãos.
Esquecemo-nos porém que, apesar de elegerem um Afro-Americano para Presidente, o que é, a meu ver, um acto louvável pois desta forma assistimos ao pleno direito à diversidade muticultural, no entanto, gostaria de ver no futuro, possibilitar e apoiar a população nativa americana, que ao longo dos tempos tem sido segregada, para que estes possam, e com o verdadeiro direito, eleger um Presidente para o seu País uma vez que, na minha opinião, são estes os verdadeiros herdeiros das terras dos seus antepassados.

Do Blogue Sem Moralidades.blogspot.com
12/11/2008

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Temos...

Temos, todos que vivemos,
uma vida que é vivida
e outra vida que é pensada,
e a única vida que temos
é essa que é dividida
entre a verdadeira e a errada.

Fernando Pessoa

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

E eu...

E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Pensamentos

Nós temos cinco sentidos:
são dois pares e meio de asas.

- Como quereis o equilíbrio?

David Mourão-Ferreira

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

O Pajem

Sozinho de brancura, eu vago ---Asa
de rendas que entre cardos só flutua...
---Triste de Mim, que vim de Alma p'rà rua,
e nunca a poderei deixar em casa...

Paris, Novembro de 1915
Mário de Sá-Carneiro

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Nona Sinfonia

É por dentro de um homem que se ouve
o tom mais alto que tiver a Vida
a glória de cantar que tudo move
a força de viver enraivecida.

Num palácio de sons erguem-se as traves
que seguram o tecto da alegria
pedras que são ao mesmo tempo as aves
mais livres que voaram na poesia.

Para o alto se voltam as volutas
hieráticas sagradas impolutas
dos sons que surgem rangem e se somem.

Mais de baixo é que irrompem absolutas
as humanas palavras resolutas.
Por deus não basta. É mais preciso o Homem.

José Carlos Ary dos Santos

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Música de Verão

E como é tempo de praia, sol e calor, muito calor, porque não relaxar ao som da melhor música internacional de Verão? CLIQUE AQUI e desfrute da melhor selecção, preparada por mim, pensando em si!

terça-feira, 29 de julho de 2008

Grandes são os desertos...

Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Não são algumas toneladas de pedra ou tijolos ao alto
que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo.
Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes –
Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas,
Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu.
.
Grandes são os desertos, minha alma!
Grandes são os desertos.
.
Não tirei bilhete para a vida,
errei a porta do sentimento,
não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse.
Hoje não me resta, em véspera de viagem,
com a mala aberta esperando a arrumação adiada,
sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem,
hoje não me resta (à parte o incómodo de estar assim sentado)
senão saber isto:
Grandes são os desertos, e é tudo deserto.
Grande é a vida, e não vale a pena haver vida.
.
Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar
que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem).
Acendo o cigarro para adiar a viagem,
para adiar todas as viagens.
para adiar o universo inteiro.
.
Volta amanhã, realidade!
Basta por hoje, gentes!
Adia-te, presente absoluto!
Mais vale não ser que ser assim.
.
Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro.
E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito.
.
Mas tenho que arrumar a mala,
tenho por força que arrumar a mala,
a mala.
Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão.
Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala.
.
Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas,
a ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, o destino.
.
Tenho que arrumar a mala de ser.
Tenho que existir a arrumar malas. A
cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte.
Olho para o lado, verifico que estou a dormir.
.
Sei só que tenho que arrumar a mala,
e que os desertos são grandes e tudo é deserto,
e qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci.
.
Ergo-me de repente todos os Césares.
Vou definitivamente arrumar a mala.
Arre, hei-de arrumá-la e fechá-la;
hei-de vê-la levar de aqui,
hei-de existir independentemente dela.
.
Grandes são os desertos e tudo é deserto.
Salvo erro, naturalmente.
Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado!
.
Mais vale arrumar a mala.
Fim.
.
04/Outubro/1930
.
Álvaro de Campos

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Um pouco mais...

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
num grande mar enganador de espuma;
e o grande sonho despertado em bruma,
o grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minhalma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!


De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
e mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Listas de som avançam para mim a fustigar-me
em luz.
Todo a vibrar, quero fugir... Onde acoitar-me?...

Os braços duma cruz
anseiam-se-me, e eu fujo também ao luar...

Mário de Sá-Carneiro

terça-feira, 17 de junho de 2008

A injustiça avança hoje a passo firme

A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
isto é apenas o meu começo

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
Aquilo que nòs queremos nunca mais o alcançaremos

Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem pois ousa dizer: nunca
De quem depende que a opressão prossiga?
De nòs
De quem depende que ela acabe?
Também de nòs
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aì que o retenha
E nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã

Bertold Brecht

sábado, 31 de maio de 2008

Procura a maravilha

Procura a maravilha.

Onde um beijo sabe
a barcos e bruma.

No brilho redondo
e jovem dos joelhos.

Na noite inclinada
de melancolia.

Procura.

Procura a maravilha.

Eugénio de Andrade

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Não tenho nada neste momento

Não tenho nada neste momento
um pensamento uma ideia
sinto-me num Convento
onde o nada me alumia.
.
Nem que pensar queira
alguma coisa de certo
minha mente é uma eira
que de trigo me deserto.
.
Tudo o que não sou agora
é tudo de minha vontade
não sou mais que a aurora
de um mito na posteridade.
.
Quando penso que não penso
se acende uma luz
do nada um pensamento
que me transforma e conduz.
9/10/95

domingo, 4 de maio de 2008

Chove

Chove...

Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?

Chove...

Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.

José Gomes Ferreira

domingo, 27 de abril de 2008

Perguntam-me quem és

Perguntam-me quem és.
Que te vejam
como os lírios do meu jardim.
Que te admirem como um pássaro
a voar no infinito.
Que te sintam como a água
a correr numa cascata.
Que te beijem com o eco
do som numa colina.
Que te toquem
como a cítara dos deuses.
Que te amem
como se ama a Natureza.
14/12/95

terça-feira, 22 de abril de 2008

Quero ter uma emoção

Quero ter uma emoção.
Sentir algo por alguma coisa.
Preencher o meu vazio
com átomos revigorantes.
Descobrir uma sensação
que nunca tivesse existido
na realidade da minha irrealidade.
Ver alguma coisa que me faça sorrir.
Sentir tanto outra que me faça chorar.
Acordar cosmicamente no meu mundo
num impulso,
como a terra e o sistema solar.
Sentir algo que passa a fazer parte
do infinito e imortal.
Acordar uma verdade já existente.
14/12/95

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Passos simbólicos

Passos simbólicos
amores diabólicos
magia, superstição
bruxedo, destruição.
.
Toda esta ignorância
é maldita e triste
viver sempre na ânsia
num mundo que não existe.
.
Gostar de fazer mal
é natural mas é defeito
no mundo o que é fatal
a lei da causa e efeito.
.
Não faças aos outros
o que não queres receber
tua casa em escombros
se é o que queres ter.
5/12/95

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Sou uma pessoa confiante

Sou uma pessoa confiante
o que penso torna-se realidade
sinto-me rejubilante
porque aceito a Verdade.
.
De tudo o que tenho vontade
o aceito dentro de mim
seja por força ou por deidade
acontece-me mesmo assim.
.
Não há barreiras na vida
nada é impossível
acredito sem medida
que é possível o incrível.
.
Para alguma coisa fazeres
deves pensar primeiro
acredita que para o seres
tens que o ser por inteiro.
8/10/95

domingo, 23 de março de 2008

Sou o amor e o engano

Sou o amor e o engano
e outras coisas fatais
coisas que causam dano
coisas boas e algo mais.

Sou duas coisas na vida
a bondade e a maldade
uma esperança perdida
o mundo e a verdade.

De tudo o que a vida tem
o que vivo é dualidade
porque a natureza contém
bem e mal por vontade.

O que tenho é que julgar
o moral e o imoral
porque tenho que contar
que um destes é fatal.

5/10/95

terça-feira, 18 de março de 2008

Sabedoria popular

.
Os maiores triunfos são aqueles que aceitam o maior perigo.
.
O homem prudente é aquele que conhece os outros.
.
O último a rir é o que ri melhor.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Para a beleza quero olhar

Para a beleza quero olhar
o sofrimento esquecer
de verdade quero amar
a vida a acontecer.
.
A vida tem coisas belas
a vida tem coisas más
tem coisas que eu sem elas
da vida não era capaz.
.
Tristeza e desapontamento
por vezes nos acontece
mas como por encantamento
o que é belo não perece.
.
Canto o que é belo do mundo
como uma orquídea ou uma rosa
não tem topo nem fundo
é um poema ou uma prosa.
5/10/95

sábado, 8 de março de 2008

Jogar com as palavras

Jogar com as palavras
é assunto de interesse
umas que são louvadas
outras que o não acontece.

Estuda bem o que dizes
não fiques envergonhado
porque ao dizer o que sabes
não fazes mais que o indicado.

Pensa sempre que a pensar
é que a lição se aprende
precisas também julgar
a vida à tua frente.

De ti dá à vida o máximo
é com ela que aprendes
com ela podes ir ao cimo
do topo do monte das verdades.
3/10/95

terça-feira, 4 de março de 2008

Poder saber pensar! Poder saber sentir!

" Sentir é uma maçada ". Estas palavras casuais de não sei que conviva a conversa de um minuto ficou-me sempre brilhando no chão da memória. A própria forma plebeia da frase lhe dá sal e pimenta.
.
.
Criei-me eco e abismo, pensando. Multipliquei-me aprofundando-me. O mais pequeno episódio - uma alteração saindo da luz, a queda enrolada de uma folha seca, a pétala que se despega amaralecida, a voz do outro lado do muro ou os passos de quem a diz junta aos de quem a deve escutar, o portão entreaberto da quinta velha, o pátio abrindo com um arco das casas aglomeradas ao luar - todas estas cousas, que me não pertencem, prendem-me a meditação sensível com laços de ressonância e de saudade. Em cada uma dessas sensações sou outro, renovo-me dolorosamente em cada impressão indefenida.
Vivo de impressões que me pertencem, perdulário de renúncias, outro no modo como sou eu.
.
Do " Livro do desassossego "
Bernardo Soares

domingo, 2 de março de 2008

Quando me sinto inseguro

Quando me sinto inseguro
eu julgo que permaneço
a escalar um muro
sem final e sem começo.

Quero olhar para cima
e é nada o que vejo
minha vida é um enigma
em cujo papel eu sobejo.

Quero olhar para baixo
e sofro de tonturas
a minha mente relaxo
do meu medo das alturas.

Parece que fico no meio
duma emoção ou dum pensamento
pois tudo aquilo que creio
minha vida é um tormento.
03/10/95

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Serás tudo serás nada

Serás tudo serás nada
Serás tudo o que quiseres
não querer nada é liberdade
mas não é possível viveres.`

Sê aquilo que encontras
no acordar matinal
dá à vida o teu retracto
tal imagem que é fatal.

Não procures o que não entendes
e também o que não queres
faz da vida a tua escola
que ela faz com que prosperes.

Aceita sempre o que aparece
como se fosse sem igual
o que conta é que te interesse
a vitória no final.
29/9/95

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

As crianças são...

As crianças são como
as flores do meu jardim.
Amo-as na necessidade
de mim próprio.
Trato-as com o carinho da água
nas suas folhas.
Imito-as como se fosse eterno.
Nelas vejo o entendimento.
Alimento as suas raízes
tal planta sedenta.
Quero-as como se eu fosse
alguém com quem brincar.
Procuro nelas a perfeição.
Vivo-lhes a pureza.
29/9/95

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Quero ser uma planta

Quero ser uma planta florida
um cravo uma rosa uma urtiga
um suspiro da vida
uma natureza antiga.
..
Ser como uma macieira
que dá fruto todos os anos
uma espiga de trigo na eira
um joio que causa danos.
.
Ser como a carqueja e o azevinho
que aqueça e embleze
como as uvas e o vinho
que o sangue arrefece.
.
Como um pinheiro que cresce
no monte da minha aldeia
em que a vida se esquece
à luz duma candeia.
3/10/95

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Fizeram templos

Fizeram templos, castelos
criaram domínios.
Escravizaram
mataram
violaram.

Construíram países,
impérios
riquezas.
Passaram os tanques
espadas, canhões
sobre os inocentes.

Fizeram-se deuses, faraós
napoleões
reis das histórias antigas
de embalar.
Criaram palavras
emoções
leis e contradições.

Dividiram o planeta
em variadas ilusões
pensaram que poderiam
dividir o mundo em dois.

1/10/95

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O poema da vida

Fazer da vida um poema
é ao que me dedico
aquilo que tenho por lema
é que de ideias sou rico.

Viver as inspirações da vida
é de tudo o que é melhor
é uma ilusão perdida
depois de ter sido a maior.

Nasce e morre um pensamento
o que foi finou-se
o que restou do momento
é passado e acabou-se.

Vivemos de baixos e altos
de barreiras e vitórias
que me parecem planaltos
que para mim são glórias.

2/10/95

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Um pouco de história

As corridas de Vila Real nos seus primórdios.
Saída da Rua Direita passando pelo Banco de Portugal em direcção ao Jardim da Carreira.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Aqui estou...

Aqui estou, recolhido em mim
tentando encontrar-me...

O silêncio em mim
boceja em descontentamento...

A voz que ouço
é um sussurro distante
da necessidade de mim
em mim mesmo.

Que luz procuras?

Que sombras te alumiam?

Que natureza te traz por cá?

Que angústias
nos passos alegres que dás?

Que causa impões no que és?

Que efeito
perfeito ou imperfeito
troveja na tua realidade?

És tu em tudo o que és?

Vês o espelho que te reflecte
a ressoar no teu mundo subjectivo
fazendo vibrar o teu mundo envolvente?

Tu és em ti a realidade presente!
.
20/05/2003

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O meu destino...

O meu destino foi pertencer
ao que me foi destinado.
Não fui mais que uma obra do meu passado.
Para vir ao mundo não fui julgado
mas desejado.
Quiseram-me por necessidade.
Porque fui..., foi o maior dos cansaços.
30/9/95

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Vou fumar um cigarro

Vou fumar um cigarro.

Pôr em prática
uma inconsciência
de mim próprio.


Por um lapso vou ter a sensação
de uma indigência e verdade mental.

Aceito a liberdade
sendo escravo de um pensamento
de uma sensação.

Acende-se a minha necessidade
de um mundo,
que a minha irracionalidade
determina.

Satisfaço a minha avidez
de maneira que desconheço.

12/9/95

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Gostava de ser político

Gostava de ser político
na palavra a demagogia
ser um certo partido
minha vida dia a dia.

Ser um Marx ser um monstro
um promotor de ideias
um mundo que eu encontro
na vida de todos os dias.

Dizer o que se tem
aceite por verdadeiro
aquilo que se desdém
dizê-lo o tempo inteiro.

Dizer que sou o melhor
e que posso ser presidente
o meu partido é o maior
a governar toda a gente.

3/10/95

domingo, 27 de janeiro de 2008

Anjo da Guarda

Voltei a cair.
voltei a ver as ilustres lágrimas
virem absorver-me de dor e sofrimento .
nos subúrbios do inferno que vivia dentro de mim ,
palavras contaminadas de ódio ,
batalhavam todas as horas , todos os minutos , todos os segundos
para atingir e concretizar com sucesso e maldade
um único objectivo de me ver morrer ,
pela pessoa ,
a quem eu teimava dedicar a minha vida .
um difícil
ajuste de contas que eu próprio criei ,
sem pensar .
estas , convidavam para o meu dia
uma angústia feia de se ver ,
e um choro condenado
que se libertava quando queria e bem lhe apetecia .
quando jamais se pensava ,
uma linda voz me atraiu novamente .
aquela que uma vez me deu a mão ,
me levou para caminhos elegantes de alegria ,
me fez sentir o quanto é bom alcançar o auge da felicidade .
trouxe com ela ,
um lindo apagador apaixonado ,
que conseguiu
esconder o passado e fazer-me acreditar no futuro .
Sem dúvida ,
que introduziu nesta cabeça
umas séries de filmes impossíveis de viver ,
mas construiu ,
uma deliciosa certeza de que se pode viver só por amar .
só por te amares a ti ,
só por amares quem te faz sentir bem ,
só por teres o prazer de amar .

António Ribeiro @ 2008

17 anos

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Existo...

Existo na subjectividade.
O que sou é subjectivo.
Não sei se o que penso
é o pretendido.
Sou o incompreendido.
.
A minha consciência
é a incompreensão de tudo isto.
Digo o que não sou.
Faço o que não digo.
Vejo, sem saber se está
compreendido
por vezes, uma ilusão do perdido.
Crio uma imagem do conhecido.
Reajo de acordo ao favorecido
ao querido e não querido.
.
Escrevo o que não digo...
28/9/95

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Ela é bela


Ela é bela
um encanto.
Se eu só penso nela
é porque a amo tanto.
.
Olhos cor do céu
das nuvens e do tempo
um olhar que é o meu
sempre no pensamento.
.
Os seus lábios e seus beijos
e toda a sua afeição
alimentam-me os desejos
satisfazem-me o coração.
.
O seu corpo é o horizonte
de tudo aquilo que sou
aquilo que ela sente
é o paraíso em que estou.
.
Não posso viver sem ela
minha querida e amada
eu quero viver com ela
senão a vida está acabada.
1/10/95

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Poema de amor

Dá-me um anel; mas que seja
como o anel em que cingida
tem gemido toda a minha vida.
Dá-me um anel; mas de ferro,
negro, bem negro, da cor
desta minha acerba dor,
deste meu negro desterro!
.
Dá-me um anel; mas de ferro...
Sempre comigo hei-de tê-lo;
há-de ser o negro elo,
que me prenda à sepultura.
Quero-o negro...seja o estigma,
que decifre o escuro enigma,
duma grande desventura.
.
Dá-me um anel; mas de ferro,
que resista mais que os ossos
dum cadáver aos destroços
do roaz verme do pó.
Entre as cinzas alvacentas,
como espólio das tormentas
apareça o ferro só.
..
E o teu nome impresso nele,
falará dum grande amor,
nutrido em ânsias de dor,
pelo fel da sociedade...
Que teu nome nele escrito,
nesse padrão infinito,
vá comigo à Eternidade
.
Camilo Castelo Branco

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

As Rosas

As Rosas amo dos jardins de Adónis,

essas volucres amo, Lídia, rosas,

que em o dia em que nascem,

em esse dia morrem.

A luz para elas é eterna, porque

nascem nascido já o sol, e acabam

antes que Apolo deixe

o seu curso visível.

Assim façamos nossa vida um dia,

inscientes, Lídia, voluntariamente

que há noite antes e após

o pouco que duramos.

Ricardo Reis

sábado, 12 de janeiro de 2008

Não a Ti, Cristo


Não a Ti, Cristo, odeio ou menosprezo
que aos outros deuses que te precederam
na memória dos homens.
Nem mais nem menos és, mas outro deus.

No Panteão faltavas. Pois que vieste
no Panteão o teu lugar ocupa,
mas cuida não procures
usurpar o que aos outros é devido.

Teu vulto triste e comovido sobre
a 'steril dor da humanidade antiga
sim, nova pulcritude
trouxe ao antigo Panteão incerto.

Mas que os teus crentes te não ergam sobre
outros, antigos deuses que dataram
por filhos de Saturno
de mais perto da origem igual das coisas.

E melhores memórias recolheram
do primitivo caos e da Noite
onde os deuses não são
mais que as estrelas súbditas do Fado.

Tu não és mais que um deus a mais no eterno
não a ti, mas aos teus, odeio, Cristo.
Panteão que preside
à nossa vida incerta.

Nem maior nem menor que os novos deuses,
tua sombria forma dolorida
trouxe algo que faltava
do número dos divos.

Por isso reina a par de outros no Olimpo,
ou pela triste terra se quiseres
vai enxugar o pranto
dos humanos que sofrem.

Não venham, porém, 'stultos teus cultores
em teu nome vedar o eterno culto
das presenças maiores
ou parceiras da tua.

A esses, sim, do âmago eu odeio
do crente peito, e a esses eu não sigo,
supersticiosos leigos
na ciência dos deuses.

Ah, aumentai, não combatendo nunca.
enriquecei o Olimpo, aos deuses dando
cada vez maior força
p'lo número maior.

Basta os males que o Fado as Parcas fez
por seu intuito natural fazerem
nós homens nos façamos
unidos pelos deuses.

Ricardo Reis

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Que Futuro?

Até há bem pouco tempo este lugar estava rodeado de giestas e silveiredo alto não deixando ver nada para além de 50 metros. ( fazia este caminho como atalho quando estudava no liceu e foi sempre mato de giestas altas sendo ao longo dos tempos o local próprio para se recolher estacas para os feijões, uso e costume do pessoal da zona). Pobre Santa que durante este tempo todo só podia ver o Pioledo entre as árvores e sabe-se lá quantas rezas teve e tem que fazer pelo que lá se passa. Mas agora o sofrimento aumentou. Dum momento para o outro, a Senhora de Lurdes, como é chamado o antigamente possível culto, que começou a ser construido nos princípios do século vinte, ficando-se pelo Altar-Mor , o culto da Santa e os perfeitos muros e portões à volta, tendo sido também em tempos palco da festa à santa que acabando levou o culto mariano ao abandono, dum momento para o outro dizia eu, este lugar passou de um espaço coberto de árvores (talvez o abandono por várias razões não fosse assim tão anti-natural), para um lugar sem vestigios do que estávamos habituados. Para mim não há problema que esteja limpo e que a Santa agora possa ver o que se passa ao seu lado, mas digam-me por favor que aquele lugar vai ser transformado num local de lazer, de paz e relaxamento, (COMO SEMPRE SE OUVIU FALAR POR AQUI) com todas as condições civilizadas de cidade civilizada do século vinte e um. Não me venham com outras artimanhas!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Balanço de visitas

Obrigado a todos!

É com prazer que lhes venho comunicar os resultados de 7 meses de trabalhos colocados nos meus blogues, cujo início foi dia 11 de Junho de 2007, quando me dispus a criar o blogue “ pacovillanova “ um blogue que é dirigido ao plano intelectual com textos, poemas e comentários meus e de outros autores, e ainda, as mais belas imagens de paisagens e pessoas ou temas famosos. Como não podia deixar de ser criei logo a seguir o blogue “ Loja do Santos “ um blogue dedicado à exposição de trabalhos populares e tradicionais, em literatura, imagem e vídeo. Também coloquei á sua disposição o blogue “ Operemilagres “ um pouco de meditação que penso necessária. Para além destes e ao longo destes sete meses coloquei O “ Paço Tube “ um blogue onde pode ver os mais variados vídeos de festas populares, actividades culturais, viagens, lugares e pessoas. Porque gosto de fotografia introduzi as minhas fotografias no “ Paco Olhares “. Aproveitando a Net para propagar Cultura: “ Politica Social “ “ A Tradição “ “ Poesia de Pessoa “. Para pensar um pouco numa coisa diferente “ O Desvenda Mistérios “. Recordando outro século: “ Paço Encyclopedia das Famílias”. E por fim, para relaxar porque descansar também é preciso, “ Paço TV Online “ Grátis no seu PC e uma variadíssima selecção musical no “ Paco Radio Blog “ a rádio que você controla. Pode visitar estes blogues na barra lateral de todos os blogues.

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Resultados de visitas entre 11/06/2008 – 09/01/2008

Blogues no Blogger: 7903 visitas

Vídeos

.Início 25/06/2007

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Vila Real Promo: 1594
Rally Sabrosa: 929
Passar em Vila real: 726
Rali dos Torneiros: 553
Viagem a Vila Real: 347
Comboio Régua: 316
Marchas Sto António: 232
Descer o Alvão: 227
Procissão Sra Pena: 221
Festa Folhadela: 216
Vila Real: 106
Na feira: 86
O Ricardo: 85
Aeródromo: 84
Tuna Ao Toque: 82
Marchas II: 76
Banquete: 69
Jogo do Cepo: 66
Preparar churrasco: 65
O Mário e o Mário: 65
Marchas das duas Bilas: 59
Brincando com a música: 56
Ela dacucu: 54
O Mr Chico: 53
Passar em Vila real II: 45
As senhoras e Senhores: 43
O Conde e o seu copo: 31
Tuna II: 29
Dog’s Symphony: 28
O Rafael: 21
O Tónio: 21
Tuna Ao Toque III: 19

.Colocados: 32
Visitados: 6622 vídeos vistos
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Nota: Apesar dos números serem singulares e modestos, quando comecei a escrever blogues, não sabia o prazer que daria verificar um dia que o nosso trabalho, aparte do orgulho que representa ser talvez apreciado, significa muito mais do que isso. Representa que todos nós também queremos conhecer os nossos semelhantes e que nunca se sabe o quão prolifero se pode tornar esta troca de ideias, através da sua exposição natural e desprendida de naturezas banais e preconceituosas, resultando muitas vezes em atitudes positivas. Penso ainda, que, através desta dinâmica poderemos melhorar o nosso meio cultural, o meio-ambiente, libertando-nos assim e ajudando ao mesmo tempo os outros a libertarem-se. Um muito obrigado e continuem a visitar os meus blogues!

Pacovillanova

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Luis Pacheco



Domingo de manhã fui com a Amada para a praia nos rochedos junto do mar vi pela primeira vez o seu corpo nu feito de espuma e onda. Ficámos calados (como quem está só) escondidos de todos à beira-água (como quem a ama, apetecendo-a como os suicidas), o seu corpo cheirava a maresia (cheiraria?). Numa grande doidice de beijos e carícias leves beijei seus pés de espuma macia… em lírica, diria: pés de sereia; em realística, diria: pés de virgem (feia); em novelística, da antiga, diria: pés de deusa brinca brincando na areia; em novelística, novíssima: patitas catitas de centopeia…, beijei seus pés; por ali mesmo comecei a beijar. Caprichos de libertino: o corpo da amada ficou lá nos rochedos à beira-água onde infatigável desfeito liquefeito brisa de maresia pairando no bafo quente do ar e eu guardo no meu quarto na minha colecção mais um sexo de donzela conservado em álcool e memória, uma mistura fácil de três por dois, tintos.



de “ Os Namorados”

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Ao meu lindo Portugal

Ajoelha-te em contrição povo da m'nha querida nação

pegada de dinossauro rosnando à sopa entornada

pela velocidade de um olhar para o futuro

amiba em coma resumindo o vazio cheiro dos hipermercados

(espelhos de nós lençóis de cal tartarugas da época)

milhafres de vidro assustados pelo tempo

cabelos de quem não vem não vai não quer vestir mais nada senão

o acaso

o incerto

o incerto o sorriso vesgo ao vestibular sismo de aparições.

Ajoelha-te, que os guardanapos espreitam preparando-te o fastio

da dor do açúcar a engarrafar as artérias.

E ainda dizem que essa tremura é coração....

O tanas... isso é falta de aguardente e de porrada!

Ó país da cínica decisão na sacristia

onde a mão que derrota na bisca não vence na vida

país que se veste para sair à rua

fato de D

fato de Domingo em saliente crise de versão.

Ò país de uma só orelha que ouves apenas o que te interessa
e passas a vida a farejar os outros com a narina mais casta

ruína do cínico resumindo o engodo que ser português é viver

num Portugal mais pequeno que as fronteiras.

O país do panfleto ressona

com a gordura a transbordar das sobrancelhas em aspa.

POEMAS COM DEDICATORIA A UM AUTO RETRATO

Ricardo Almeida

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Começa hoje o ano

Nada começa: tudo continua.
Onde 'stamos, que vemos só passar?
O dia muda, lento, no amplo ar;
Múrmura, em sombras, flui a água nua.
Vêm de longe,
Só nosso vê-las teve começar.
Em cadeias do tempo e do lugar,
É abismo o começo e ausência.

Nenhum ano começa. É Eternidade!
Agora, sempre, a mesma eterna Idade,
Precipício de Deus sobre o momento.
Na curva do amplo céu o dia esfria,
A água corre mais múrmura e sombria
E é tudo o mesmo: e verbo o pensamento.
Fernando Pessoa

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Bom Ano para os Jovens Poetas

OS CONSELHOS MAIS SINCEROS PARA JOVENS POETAS

Dói-te o fígado, não bebas
que a poesia dispensa mais uma dor como essa. Já lhe bastam os arrepios e as unhas carpindo os cabelos brancos.

Não é tragédia escrever poesia, assim como não o é escrever: valem mais os braços que os abraços.

Quando te pedirem para espreitares para cima, não queiras logo ver a lua. Antes da lua há as nuvens. Passa antes por elas e já agora limpa os óculos.

Não queiras ter tudo de uma vez que uma mão não chega para os rebuçados. Com a outra, limpa as cascas.
Não atires o pau ao gato. Qualquer pessoa inteligente sabe que ele, realmente, não morreu. Alem disso, quem não gosta de animais não gosta de estar sozinho. Um dia precisará de calmantes para adormecer.

Quem te disse que se nasce com a poesia? É mentira. Não há beleza alguma na placenta.

Se queres ser poeta, evita os fins-de-semana. Evita pensar neles e durante eles.
Ricardo Almeida